História

O étimo de Poiares é Podiales, de origem romana, alusivo não sabemos se à situação e feição do lugar – poios da montanha debruçados imediatamente sobre um fundo vale que, ao poente, desce para o Tanha, tendo ao fundo Vilarinho dos Freires – se ao “podium” romano, cadeira judicial na tradição popular de que são exemplo os assentos talhados na rocha do forte castro de Longa (conc. De Tabuaço – v. Longa). A ser assim, o nome formar-se-ia de dois ou mais conjuntos destes sólios.
Grande parte dos numerosíssimos topónimos desta freguesia depõe valiosamente sobre a sua história antiga, principalmente os alusivos à arqueologia local. Entre estes dão-lhe muito remotas raízes os três castros que denominaram os sítios ditos Castro do Meto (talvez o próprio nome pessoal Mido, de origem Germânica), Castro de Pedro e Castro da Seara – Este último junto à povoação deste nome que, apesar de ainda hoje pequena, tem nele o certificado de um ante - histórico povoamento. É realmente singular nesta freguesia a frequência de fortificações do tipo castrejo, e em raras do País poderá achar-se semelhante. Na quase totalidade, têm sofrido gravíssimas destruições; mas, em alguns casos, basta a toponímia para atestar a sua remota existência e aplicação até a ocupação bárbara. São principalmente notáveis pelas eminências áridas do longo Vale do Carro (paredes espessas de pedras miúdas), no sitio da Fonte do Milho (muralhas e achados de moedas romanas imperiais), entre outros, além dos já denominados ainda adiante. Em concordância com esta circunstância, vivem ainda os topónimos Trás da Deusa, cuja lição é facilmente suspeitável, e Muro, que pode aludir a fortificações antigas. Muito antigos ainda os topónimos Reforges, Valtibes (talvez de filiação germânica), Alcobaça, Fatarenho, Ginalda, Luzância (cf.«ad campum Lucencie» Inquir., P. M. H., 564,«in Lusenza», id., 641), Abelal (talvez um locativo do tipo Belali, nas Inquir.380), Cheira (ant. Chaeira, que nos faz supor um baixo lat. * planaria>* planeira>chãeira>cheira), Nogueiró (de nokariolo ou –ola, cf. Dip. et Ch., nº 873), Piscas (certamente, como supomos e o exame local confirma, o derivado *peniscas, de pena, «penha», segundo a série fonética *penisca>*peísca>«pisca»*, sendo certo que este sitio é eminente ao vale de Covelinhas e é notavelmente penhascoso e muito curioso até pelas formas e cores destas«penhas», Queilha (forma arcaica estereotipada que dá aos filólogos a justificação da sua suspeita sobre o étimo de «quelha» , o lat. Canalicula, pois persiste o i postónico do étimo e de uma forma intermédia, *cãailha), Laguna (outra forma arcaica estereotipada muito remotamente, pois é quase o lat. Lacuna, que normalmente devia dar «lagoa»e não tem origem erúdica). Enxertado termo de nomanço, que significava, ao que se diz, pomar), Quinchoso (outro termo arcaico – de «conchoso», lat. Conclausu-), Roçario (com origem em rolca ou «roça», terra inculta que se desbravou ou rompeu – mui antigamente, portanto, como se vedo topónimo), Ujecedo (derivado de ujo, espécie de mocho?), Barra (termo arcaico, relacionado com o imposto medievo de portagem), Margaridas (cp. «Margaridi villa» na alta Idade Média), Alvagueira, entre outros. São ainda muito notáveis os antropónimos que aqui se aplicaram como nomes de sítios: Alvaredo (que pode ser o próprio nome pessoal de origem germânica, composto de –reths «conselho» e alça- : cf. Alvarigo ou Albreico, entre outros – podendo, portanto, nada a ter com a espécie vegetal «alvar» do carvalho cerquinho, apesar da existência de –edo, que pode parecer o frequente sufixo «botânico»); Biando (que, em nosso ver, é o próprio nome pessoal, de uso ainda frequente no séc. XI, Evenando ou antes Venando: “Evenandus test”, Dip, et Ch., nº849, “Venandus test.”, id., no406: Venandu-Veando Biando, B-); Freginha (cp. “Freigio”, isto é, Freiginho, Inquir., p. 388. portanto nome pessoal de origem germânica); Mourinho (que pode ser o nome pessoal Maurinud), Pariça ou Apariço (evidentemente, o nome pessoal Aparício, de farto uso nos séc. XII e XIII). Vê-se, por esta riqueza toponímica, que a história desta freguesia remonta aos tempos pré-históricos; e o povoamento local, pelos toponímios de origem germânica e pelos estereotipados geograficamente em épocas recuadas, não pode ter sofrido longas soluções de continuidade – se algumas destas ocorreu realmente.
Constituída muito posteriormente, a freg., foi sempre Canelas a sua mais qualificada pov. (v. adiante). Na primeira metade do séc. XVIII, não obstante o senhorio medievo da sé lamecense, foi senhor da vila de Canelas o infante D. Francisco. É ainda notável o toponímio Couto, que, se não alude a este couto dos bispos de Lamego, certamente se refere a outro que teve aí existência mais ou menos efémera e desconhecida. Em 1225, o arcebispo de Braga, D. Estêvão Soares, o encarniçado inimigo da coroa, construiu para o bispo lamecense uma igreja em Canelas (a freguesia de Poiares era da arquidiocese de Braga): “ Nos S. Dei gratia brachar. archp. facimus vobis fratri nostro episcopo lam. Ecclesian in cauto suo de Canellas tali conditione quod episcopus ipsam ecclesiam presentet nobis”, etc. Todo o território desta freg. Foi uma povoada estância de povos primitivos, que a fortificaram em vários pontos, especialmente um pouco ao sudeste da sede paroquial, no despenhadíssimo monte Raso. Esta eminência, dominando de perto o Douro, defensáculo das terríveis populações durienses a que se refere Estrabão, apenas tinha entrada fácil pelo lado do norte, onde, por isso, necessitava de forte defesa artificial – que se conseguiu neste crastos com grossas paredes de pedra miúda; do sul, pelo contrário, o declive é temeroso e abate-se rapidamente sobre o rio alcantilado, para o chamado Poço da Caldeira. Também mui prestadio à defesa castreja foi o monte de Corvaceira, um pouco ao poente daquele – como ele dominando o Douro em larga extensão (todavia, ainda que a muito maior altitude, de menos pronunciados pendores). Mais duas eminências castrejas existem no território da freg.: uma, já nos seus últimos limites, a cavaleiro do rio Tanha, sobre Vilarinho dos Freires, cujas espessas muralhas foram desfeitas desde há cerca de um século, apropriando-se o local e as imediações ao plantio de vinhas (monte do Castro); outro sobre Canelas e cerca de Poiares, no sítio que se chamou Fonte do Milho, onde ainda não há grandes decénios eram apreciáveis os restos das muralhas. Enquanto no Raso e na Corvaceira os castros não serviram senão para refúgio (cuja necessidade urgente e a cada instante se revela da solidez e vulto das muralhas) e para vigilância exercida sobre o curso do Douro – aqueles, pelo contrário, foram já apropriados à habitação, segura pela vigilância exercida dos dois referidos e mantida em terrenos mais dadivosos até aos tempos da colonização e mesmo dominação romana, como se deduz do aparecimento de moedas dos imperadores Tibério (no Castro de Canelas) e Constantino (no eminente ao Tanha). No território primitivo da paróquia de Poiares (a qual se estendia, pela margem direita do Douro, desde o Corgo ao pequeno rio Ceira, ou de Guiães), mas já fora dos limites da actual – apesar de cerca deles – outras fortificações castrenses avultavam, como as eminentes a Covelinhas. Os castros, porém, de sobre o Tanha e de Canelas são os que mais importam na fundação das pov. de Canelas e Poiares, no pequeno planalto acidentado que os une.

Idade Média

Concorda com o facto o ter sido Poiares, pov. importante na alta Idade-Média, a sede de um vastíssimo julgado do território de Panóias – o qual julgado se estendia desde o Corgo ao Tua (apesar de assim ter uma sede demasiadamente excêntrica, sita no último extremo sudestino). O julgado de Poiares ainda existia desta estranha feição por 1220, pois nas inquirições deste ano figura a paróquia de Santa Maria de Alijó como nele incluída. Os aforamentos, porém, do séc. XIII, provocaram não só o seu desmembramento mas até a sua própria extinção. É de presumir que já nesta altura a pov. andasse decadente do estado anterior, de importância determinada e conferida por uma colonização remotíssima (castreja e romana). Nos fins do séc. XIII, com efeito, estava indubitavelmente extinto o julgado de Poiares, pois os habitantes deste lugar e vizinhos deviam ir ao “juízo do juiz da Feira” (segundo o que se apurou nas inquirições dionísias). Não se trata, evidentemente, da Feira do antigo território litoral de Santa Maria, mas de “Feira de Constantim”. (Note-se que, na época, havia por ali também “Constantim da Feira”). Por esta altura, levava D. Dinis a efeito a efeito a última tentativa da fundação de Vila Real, com êxito. A cabeça da “terra” de Panóias, até aí em Constantim, passaria a esta Vila Real (hoje cidade); mas, como se procedia à formação da “pobra” ainda nesta altura, é a razão de Poiares se dizer do julgado de Constantim (de Panóias ou, como agora se dizia, da Feira), devendo pouco depois chamar-se Vila Real “de Panóias”. Em 1258, a freg. De S. Pedro de Abaças, que ainda em 1220 era do julgado de Poiares, já era do de Panóias – o que demonstra que, se o de Poiares não estava extinto, se ia reduzindo de extensão, acabando antes do final do séc. XIII. Devendo ir os habitantes, por 1290, ao juízo dos juízes do Constantim, já por 1310 se dizia que deviam ir ao dos de Vila Real – tendo, portanto, principiado já a subordinação de Poiares e vizinhas à “pobra” régia passoniana. A paróquia medieva de Poiares era, como dissemos, muito mais extensa. Dela se desmembraram as de Vilarinho (dos Freires), Alavações (do Corgo), Covelinhas e Guiães (vindo a dar esta última origem às de Paradela e Galafura, esta ainda não criada nos inícios do séc. XIV, pois figura como parte da de Santa Maria de Guiães). O facto mais saliente na história desta freg. É ter sido desde muito cedo pertença da Ordem do Hospital, que já em 1220 possuía parte da igreja (de torre afortalezada), dezasseis casais da “vila” e várias searas. Nesta altura, já não se sabia na localidade o modo porque a Ordem adquirira aí este domínio; e somente um jurado das inquirições (um nobre, herdado ainda ali), pôde afirmar que os seus avós, entre os quais D. Mem Viegas e sua geração, haviam doado esses bens ao Hospital. Evidentemente, dada a ignorância sobre o caso entre a população local, esse D. Mem Viegas não é propriamente avô desse fidalgo (que era Mem Gonçalves, “de Senra” ou Seara, lug. Da freg.), visto que uma geração tão chegada à época do desconhecimento sobre as aquisições do Hospital não podia deixar de saber do facto. Não deve haver dúvida de que fora senhor de Poiares o notável D. Mem Viegas “de Sousa”, do séc. XI para o XII – o segundo chefe da parcialidade dos Sousãos, que, nessa época (a do seu engrandecimento), governava e dominava na terra de Panóias, desde o Marão ao Tua. É possível que seu pai, o Sousão I (D. Egas Gomes), já tivesse possuído Poiares, e até o pai dele, o célebre D. Gomes Eichiguiz, maiorino do rei D. Frenando I o Magno no Ribadouro, onde se situa Poiares (cf. Dip. Et. Ch., nº421, ano de 1059). Outra circunstância prova ainda que esse D. Mem Viegas citado nas inquirições como senhor de Poiares, é o Sousão II: e é não ter sido ele o único doador de bens neste lug. ao Hospital, mas a “sua geração”, isto é, os seus descendentes. De facto, foi o seu filho, D. Gonçalo Mendes ou D. Gonçalo de Sousa, poderoso nobre do séc. XII, de cujo casamento com uma filha de Egas Moniz lhe ficaram duas filhas: a condessa D. Elvira Gonçalves, senhora da honra da Faia (“terra” de Cabeceiras de Basto, também do domínio dos Sousãos), e D. Teresa Gonçalves, a qual herdou Poiares. Casada com D. Vasco Fernandes (filho do célebre alferes Fernando (Gomes) Cativo), teve dele dois filhos e duas filhas. Um dos filhos, D. Gil Vasques “de Soverosa”, foi governador destes territórios de Panóias; e uma das filhas, D. Áldara Vasques, herdou Poiares. Foi de D. Teresa Gonçalves e de D. Álvara Vasques, sua filha, que o Hospital recebeu herdamentos neste lug. (entre outros da geração de D. Mem Viegas “de Sousa”). D. Áldara deu à Ordem a oitava da igreja do lugar e três casais que aqui possuía, por escritura que ficou registada em livro próprio, existente no cartório de Leça (com o nº248, a f. 14). Em virtude das doações de D. Teresa e D. Áldara, e talvez de outras, as pertenças do Hospital em Poiares, que eram 16 casais (além de searas e da igreja, em parte), por 1220, elevavam-se em 1258 a 22 casais, os quais apenas pagavam à coroa: dezoito dinheiros cada, anualmente, pelos “ferros de fogo” a que estavam obrigados; três das quatro coimas (das quais metade era da Ordem); e alguns deles portagem (ao passo que outros não). O singular tributo dos ferros era frequente nesta região de Panóias. Nos meados do séc. XIII, portanto, já em Poiares não havia qualquer reguengo: de m odo que em 1290 foi achado que já toda a “aldeia” (sentido territorial) de Poiares era da Ordem do Hospital, à única excepção de um casal do mosteiro do Pombeiro (o qual mosteiro era do padroado dos Sousãos) – o que mais confirma o forte domínio desta parcialidade da nobreza primitiva nestes lug.). Os casais, porém, eram, no final do séc. XIII, em número menor em Poiares, pois sendo 22 em 1258, somente se contam 13 (incluindo o do mosteiro de Pombeiro) em 1290. É possível admitir-se neste facto um indício da decadência de Poiares a que se fez referência e que determinou a extinção do seu vasto julgado: e, sendo assim, o domínio da Ordem não foi aí benefício, pelo menos em início – talvez pela grande acumulação de bens e apesar de um ou outro aforamento feito pelos comendadores. Os 12 casais do Hospital apenas pagavam em 1290 outros tantos “ferros de fogo” – tendo desaparecido, ao que parece, os outros tributos, como resultado da instituição da comenda de Poiares, a que Figueiredo se refere dizendo-a “uma das mais consideráveis da Ordem de Malta neste Reino”, onde Poiares era a “cabeça” e S. Miguel o “título”. Os restantes lug. da paróquia, à excepção de Canelas, eram quase todos da Ordem, e ainda de certos fidalgos – como em fins do séc. XIII as “aldeias” (territórios) de Alvações (ant.,Aveções), Persegueda (então Paredes de Gueda, em que este último termo é um nome pessoal germânico – topónimo de curiosa formação, pois de Paredes de Gueda, por vários fenómenos, entre os quais uma subordinação enclítica, se originou a pronúncia popular Perdesgueda, e, desta, a forma actual), Santo Tirso e Vilarinho – as quais vieram a constituir mais tarde a freg. De Vilarinho (dita “dos Freires”, depois do séc. XIV, precisamente pelo senhorio dos freires hospitalários), desmembrada, pela Ordem, da de S. Miguel de Poiares. Os lug. de Seara e Escadavaz (joje Escabeda, talvez – pois fica, com esta semelhança, perto daquele), eram, no final do séc. XIII, todos do Hospital – o que demonstra que desde 1258 a Ordem continuara a adquirir por aqui bens (porque naquele ano e antes, ainda a honra de Seara era de Mem Gonçalves, “miles” local). Pelo séc. XIII se fez a doação de Afonso Rodrigues, da sua herdade no Panascal, termo de Poiares, bem como a sua venda de Elvira Soares, da sua herdade de Vila Seca, onde também doara bens a dita D. Teresa Gonçalves, etc. Quando D. Dinis tentava a última fundação da sua “pobra” de Vila Real, fez um escambo com a Ordem do Hospital, que lhe cedeu vários lugares para a dita “pobra” (v. Panóias) em troca de outros, um dos quais foi a Garganta, termo de Poiares; mas parece que houve oposição ao cumprimento do escambo, pois só depois de uma reclamação da Ordem junto da coroa é que esta obrigou os opositores, fossem quais fosse, a entregar os ditos lugares (entre estes, a Garganta) ao Hospital (1223). Entre os comendadores de Poiares na Idade-Média, avulta Grei Lopo Gil que, entre outras obras, efectuou o aforamento dos bens da ordem em Alijó (então, Lagió ou Ligioo), com o seu freire Frei Lourenço Rodrigues. Surgindo questões delimites, por esta altura, foi feita uma composição entre o Hospital “e os de Vileboas” (?), pela qual ficaram a usar-se os termos “como ante(s) Poiares usava”.

Em Canelas, um casal fora dado em 1193, por D. Sancho I, a dois jograis, de nome Bonamis e Acompaniado – por um “arremedilho” que eles haviam feito ao monarca. Estes jograis certamente eram naturais de Canelas ou Poiares; e são os primeiros artistas de teatro, ou dramaturgos, que se conhecem na História portuguesa. As suas criações eram tão apreciadas na corte do segundo rei que este chega a fazer-lhes a encomenda de uma peça, que lhes pagou com um casal coutado, livre, portanto, de qualquer foro à coroa, como se fora propriedade de grandes fidalgos – que, afinal, estavam bem longe de o ser. Este casal passou aos descendentes dos dois dramaturgos, pois nos fins do séc. XVIII, um século depois da doação, ainda é contado o casal “do jogral” (os jurados já tinham a ideia de que a mercê se fizera a um só) como um dos isentos na “aldeia” (território) de Canelas junto a Poiares. É notável que esta parte da região duriense parece ter criado vários artistas de momos e arremedilhos - do teatro medieval (escritores e, ao mesmo tempo, actores). Com efeito, em Vila Marim, não longe demasiado de Poiares, uma parte dessa “vila” fora dada “a huu joglar” (jogral) por um rei, que se não sabia qual, em 1258. Em vista deste desconhecimento, esse rei devia ser antigo – presumivelmente o próprio D. Sancho I; e quem sabe se o jogral não terá sido o mesmo Bonamis ou seu irmão (artistas, portanto, de alto valor) e o rei um protector desvelado do teatro nacional naquela época? À data da mercê a Bonamis, a “aldeia” de Canelas compreendia oito casais, apenas: metade de homens de rei e a outra de herdadores. Dos seus quatro, D. Sancho I deu um ao jogral; os outros, estando com a família em Lamego, doou-os ao bispo lamecense D. Pedro, a fim de os seus rendimentos serem aplicados em ornamentos e na fábrica da sé. Os outros quatro, os dos herdadores, passaram destes à Ordem do Hospital e a certas igrejas e mosteiros. No fim do séc. XIII e por isto, Caneças era trazida como honra, apesar de anteriormente ter aí entrada o porteiro régio e de os habitantes irem a juízo à Feira ( de Constantim). Em vez de honra propriamente, devemos, portanto, supor couto. D. Dinis ordenou a devassa de Canelas - a única excepção de couto legítimo, por D. Sancho I ( e não por padrões), da sé lamecense, e da propriedade que fora de Bonamis. Como em Canelas, o senhoria metia em Poiares juiz e chegador pela mesma altura – o que então fazia D. João Durães. D. Dinis ordena que de Canelas e Poiares se vá a juízo à Feira e que entre ali o porteiro real. Vila Seca era, havia muito, uma honra que fora dos Sousãos e nessa altura pertencente ao Hospital, a mosteiros, igrejas e herdadores – apesar de nenhum fidalgo aí honrar as terras dos herdadores e das igrejas (que por si as não podiam possuir assim priveligiadas). Do couto de Canelas para a sé lamecense, por D. Sancho I, resultou aí a existência de “câmara” episcopal, onde o prelado possuía a jurisdição e o direito a pôr em juiz. Em 1240, o bispo D. Paio (Furtado) fez uma composição com o seu cabido sobre as divisões das rendas de Canelas e de outros coutos episcopais. Estando em Estremoz o bispo D. Frei Salvado, com D. Afonso IV - por ocasião da morte da rainha D. Isabel (de que aquele era o confessor), em 1336 – aproveitou o monarca a ocasião para obrigar o venerável prelado a mostrar os títulos de legítima posse do couto de Canelas da sé lamecense e das outras câmaras episcopais – posse que foi respeitada, como o fora já pelas sentenças resultantes das inquirições de D. Dinis. Foi, assim, Canelas um pequeno concelho. Em 1369, porém, D. Fernando deu-o por termo a Vila Real – de que voltou a desmembrar-se, como município sobre si.
Notável pelas suas acções e pelo chamadouro “de Poiares”, é D. Pedro Mendes (v. Mendes de Poiares), o “Pêro Poiares” dos livros medievais das linhagens, que morreu em combate civil contra seu primo Pêro Rodrigues “de Pereira” cerca do Porto. Todavia, deve notar-se que o Poiares do seu nome não é esta freguesia, mas o lugar assim dito no actual concelho de Baião (Pêro Poiares era mesmo, pelo lado paterno, da linhagem dos de Baião), ou seja, a honra de Poiares, que já havia sido de D. Mem Nunes, seu pai: e esta referência se faz para evitar confusões de identificação que tantas vezes ocorrem. Esta freguesia está quase totalmente situada na célebre zona vinhateira duriense; as suas povoações demoram nos terrados e nunca na bravia margem do Douro, de pendores mui pronunciados, onde apenas fica o espaço suficiente para, de longe em longe, se estender uma boa quinta. A comenda de Poiares produzia, em 1532 (segundo informa Rui Fernandes, tratador das lonas e bordates em Lamego pelo rei), 5 mil alqueires de azeite, “afora foros”, 10 mil alqueires de castanha e outros tantos de vinho, e 50 mil de pão – o que manifesta claramente, apesar das boas disposições do terreno para a cultura vinhateira, esta ainda aqui não era intensa como podia sê-lo e veio a ser, porque a cultura dos cereais atingia o quíntuplo do valor da sua (quando a verdade é que a região propriamente de Lamego já no séc. XVI apresenta índices bem mais elevados de produção vinhateira do que as terras directamente marginais do Douro). As medidas pombalinas e outras fomentaram maior intensidade da cultura. Sobre os lugares da comenda de Poiares escreveu Figueiredo: ”eles faziam um tão avultado rendimento, ainda aumentado com a Agricultura das Vinhas do Alto Douro, que foi justíssimo desmembrarem-se da comenda de Poiares mais duas novas comendas, além das duas que só estavam decretadas, Freixiel e Abreiro”., vê-se que a comenda era vastíssima); “… formou-se pois uma nova comenda no território de Alvações (Tanha e Corgo), com marcos em linha recta da ponte do rio Tanha à outra extremidade do rio Corgo… fazendo o comendador casa de residência e capela em Alvações do Tanha”. Divisões posteriores, pelos vastos rendimentos, ao todo determinaram cinco comendas de Poiares. Foram comendadores D. Frei Cristóvão de Cernache e frei José da Silva Ataíde (o último), reedificador da capela-mor da igreja local – entre outros.

A 31 de Dezembro de 1859, Poiares foi adicionada ao Concelho do Peso da Régua.

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